quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

Ataque Alienígena (2020)


Por Daniel Gonçalves


Um filme que apresenta ambiguidade em seu tema central é no mínimo ousado. Por outro lado, a produção precisa ter uma narrativa convincente para não dispersar o telespectador, ainda que a ideia seja de outro planeta (pegaram a referência?!). O que temos aqui é “Ataque Alienígena”, lançamento de 2020 e que assisti no dia em que este texto foi ao ar, apesar que tenho que confessar que já havia assistido e que só lembrei disso após 15 minutos de tela. Mas segui em frente, a percepção “apagada” do meu gigante “cinzento” cerebral foi o principal motivo para repetir a experiência, que inescapavelmente teria um novo sabor de ineditismo.

Gosto de saber das teorias da conspiração que envolve ufologia, é um terreno bastante fértil e tudo pode se tornar uma verdade se for bem contada. Já o filme, com a seriedade britânica latente em toda a trama, não abre espaço para piadas ou qualquer outro tipo de alívio cômico. A atmosfera nevoada do princípio ao fim é uma cortina que ajuda a história ganhar um corpo resistente aos deslizes de interpretação. Na verdade, é muito difícil padronizar uma forma de comportamento de reações humanas quando a peça do outro lado é incompreensível. E os extraterrestres, desde os primórdios de suas histórias, é um prato cheio para as mais diversas teorias. Eu quero acreditar que os alienígenas existem, mas sempre me deparo com um “paredão” da falta de argumentos que sustentem minimamente essa possível existência.

Ponto positivo é o fato de não ser um filme arrastado para uma malemolência inútil, que muitas vezes leva nada a lugar algum, ao contrário, a tensão instalada é genuína e a busca por alternativas também merece o devido crédito. Tudo começa com a notícia de um suicídio em uma fazenda situada numa zona rural da Inglaterra, levando a sargento Zoe Norris (Katherine Drake) a ir ao local para investigar o caso. Chegando lá, em rápida conversa com a inconsolável viúva da vítima, presencia outro suicídio, de forma inexplicável a interlocutora resolve dar cabo à própria vida. Isso mexe com o “tico e o teco” da protagonista, que solicita apoio pelo rádio, mas sem sucesso. Aquela altura, os telefones e outras formas de comunicação já estavam em frangalhos. Apenas o rádio portátil ponto a ponto, na frequência da delegacia, ainda funcionava.

No caminho de volta ela se depara com um corpo degolado na estrada e resolve seguir um rastro de sangue. Ainda impactada pelos últimos acontecimento, entra na casa misteriosa e encontra um homem falando coisas desconexas, momento em que é confrontada pela primeira vez com um organismo vivo não identificado. Pouco depois, temos a primeira demonstração de que “estamos sendo invadidos”, uma gigante nave escura sobrevoa o nublado céu do entardecer, mostrando toda sua imponência diante da protagonista e também de nós, telespectadores. Da nave saltaram alguns robôs sem formato definido, mas nada amigáveis. Era algo como “fique para ser aniquilado” ou “corra para tentar salvar o seu pescoço”, esta última o caminho escolhido pela policial, que seguiu a toda velocidade para o lado oposto.

O segundo ato se passa em um bar, onde uma chacina já havia ocorrido. Um pequeno grupo de sobreviventes, liderado pelo outro policial da cidade, consegue se esconder das intenções hostis das máquinas vivas. Patrick (Ritchie Crane) é subordinado da sargento Norris e, por isso, aguarda dela as decisões sobre os próximos passos. O problema é que a protagonista, recém-chegada à região, vinda do Canadá por motivos pessoais, ainda não está familiarizada com o ambiente local. É interessante que os alienígenas finalmente se revelam, mas de forma fantasmagórica: figuras imponentes, com mais de 4 metros de altura, usando máscaras e vestindo capas de frei franciscano, que remetem aos tempos medievais.

Ainda sobre os seres gigantes de outro planeta, eles não dizem uma única palavra, caminham lentamente como se fosse uma alegoria carnavalesca (mas bizarra), e sua presença, mais do que qualquer outra coisa, causa pavor. O grupo, psicologicamente esfacelado pela iminência da morte, se vê em um dilema: permanecer escondido ou arriscar se mover para outro local, na tentativa de escapar de seus algozes. Encontram uma camionete e zarpam para outro lugar de “desenvolvimento” cinematográfico. A delegacia, que era para ser o bunker dos sobreviventes, acaba sendo um estorvo repleto de portas e janelas que mais deixam eles expostos do que protegidos (no filme é revelado que o local é um espaço negligenciado pelo governo). E as máquinas rapidamente chegam ao novo campo de batalha, acessando o local sem qualquer resistência.

Daí por diante é história de ficção científica para as pessoas com a “mente aberta”, que é refletida na questão da ambiguidade que levantei no início desta análise. Em nenhum momento é mostrado um ataque partindo dos alienígenas contra a vida humana. O que é mostrado nada mais é que uma retaliação justificada pelo ataque inicial feito pelos humanos, e a resposta é aplicada exemplarmente. Ocorre que a forma das intervenções se dá por meio de uma seringa aplicada no pescoço dos vitimados. Outro ponto que não mencionei é que algumas pessoas são afetadas por fortes dores de cabeça e também nos ouvidos, que chegam a sangrar. Não ficou claro o que de fato leva ao suicídio, talvez o som ensurdecedor que poderia causar algum estrago na mente dos mais suscetíveis a essa investida.

No final das contas, um filme que gostei pela honestidade em propor situações de fácil compreensão, e que deixa um importante recado sobre a ignorância, que muitas vezes leva a consequências irreparáveis. A cena no vagão de trem vira a cabeça de qualquer um do avesso e levanta muitas questões, como: “Será que os extraterrestres são realmente hostis?” ou “Eles querem destruir ou salvar o nosso planeta?”. Não consigo chegar a uma conclusão, mas o que sei, de forma pura e genuína, é que nada sei!

O filme “Ataque Alienígena” está disponível no serviço de streaming Looke e tem a classificação indicativa não recomendável para menores de 16 anos.

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Dados técnicos:

Nome original do filme: Alien Outbreak.

Direção: Neil Rowe.

Roteiro: Neil Rowe.

Duração: 84 minutos (com abertura e créditos finais).

Procedência: Reino Unido.

Ano de lançamento: 2020.

Disponível: Looke.

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