Por Daniel Gonçalves
Quando eu penso em escrever sobre um filme ou um álbum de rock, dificilmente eu planejo com antecedência as palavras que usarei. É bem provável que a energia do momento será a grande responsável pela minha linha de raciocínio. Isso é bom para o texto sair mais leve, sem pressão por resultado e assim manter uma aura de espontaneidade. Curioso mesmo é a minha disposição em escrever sobre filmes, deixando os bons álbuns do universo rock ao reduzido comentário de rodapé de postagens curtas (limitadas por caracteres) no Instagram. Quem sabe um CD na próxima conversa?!
O filme que venho rascunhar é daqueles que parte da crítica especializada adora descer a lenha por não ter correspondido à 7ª Arte de suas expectativas. Quando vi o título “Armadilha”, logo pensei no longa de 1999, com Sean Connery e Catherine Zeta-Jones, mas a ideia dissipou-se no mesmo minuto. A produção fresquinha lançada em 2024 tem a assinatura de roteiro e direção por nada menos que M. Night Shyamalan, que conduziu ótimas produções nos últimos 25 anos. E é aí que começa a confusão por parte de muitos, no quesito “proposta de entretenimento”. Eu me incluo nessa galera, já que nunca fui lá de gravar nomes de diretores e outros que tais de ordem de produção e etc.
O filme começa com Cooper (Josh Hartnett) levando sua filha adolescente Riley (Ariel Donoghue) a um mega show pop previsto para ocorrer na cidade. Trazendo para a realidade, o show é equivalente ao que seria uma apresentação da “Katy Perry”, com uma legião de fãs enlouquecida pela artista. O local do evento é cercado por um batalhão de policiais, o que já desperta um sinalzinho de alerta no cérebro de quem está prestando atenção na história. Dentro do show, outra quantidade incomum de seguranças, mas ninguém ali está se importando com esse fato, exceto pelo aparente desconforto apresentado por Cooper, pai afetuoso que acompanha a filha nessa empreitada pop.
O show começa e muita pirotecnia envolve completamente a atenção das crianças e adolescentes ali presentes, enquanto que o nosso protagonista fica inquieto olhando para os lados buscando algum ponto em que não tem policiais de vigília (impossível essa observação não ser um sinal importante daqui para a frente). E a filha só curtindo, praticamente hipnotizada pela atmosfera. Durante o primeiro intervalo (sim, houve váriooooos intervalos), eles “passeiam” pela área comum do evento, e por acaso Cooper puxa conversa com um vendedor de camisetas da estrela da festa “Lady Raven”, interpretada pela Saleka Shyamalan (pura coincidência familiar em relação ao dono do filme – risos). E mais imperceptível ainda a quantidade de músicas da jovem cantora postas quase que na íntegra (tá bom, ela é filha do chefe – risos).
Avançando algumas “casas” no tabuleiro, graças ao green card do diretor, que facilita a vida do protagonista e também de quem está assistindo, e pela informação do nosso querido vendedor tagarela, é possível saber que o show é um grande plano engendrado pelo FBI para prender o famoso assassino conhecido pelo nome de “Açougueiro”, serial killer que aterroriza a região há tempos. Pelo fato do diretor entregar de bandeja algumas informações logo no início, talvez seja isso que deixou os especialistas youtubenses irados! Mas eu gostei, nem todo filme precisa ser uma fortaleza de enigmas que só se revelam na última cena.
Daí por diante, só pastelaria ao melhor óleo fervente, onde alguns impasses são resolvidos prontamente pelo diretor e também ator (sim, o dono faz ponta e “ponte” no show no papel de tio da Lady Raven). Sem dar maiores spoilers, ainda que alguns sejam inevitáveis, uma sequência maluca ocorre depois do show, com reviravoltas interessantes, algumas óbvias, mas tudo pensado para ser dessa forma, em nenhum momento percebi a intenção de fazer o telespectador de idiota. No final das contas, o spoiler fornecido gratuitamente merece ser criticado? Não seria criticado de qualquer forma se a descoberta ocorresse pelo “pseudo-youtuber” no caso de discordar da forma? Difícil agradar esse povo, hein?!
Somente eu que notei um filme com suspense, comédia, drama, aventura e terror psicológico ao mesmo tempo? Aliás, fico me perguntando se eu sou um dos poucos que não caiu na “armadilha” (pegaram a referência?!) de achar que o filme é ruim somente pelo fato de entregar uma quantidade acima da média de informações privilegiadas acerca das soluções de conflitos. Eu não reclamei em nenhum momento, já que nem sempre visto a capa do Sherlock Holmes e saio por aí decifrando crimes com minha lupa e cachimbo Peterson (fazendo jabá grátis - risos). Tem dia que estou mais para Garfield, em que a melhor coisa que faço é deitar e relaxar diante de uma produção leve e despretensiosa.
E só pra lembrar, o diretor M. Night Shyamalan assina produções como “O Sexto Sentido” (1999) e “Sinais” (2002), para ficar só nesses.
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Dados técnicos:
Nome original do filme: Trap.
Direção: M. Night Shyamalan.
Roteiro: M. Night Shyamalan.
Duração: 105 minutos (com abertura e créditos finais).
Procedência: EUA.
Ano de lançamento: 2024.
Disponível: Max (serviço pago de streaming).