domingo, 19 de outubro de 2025

Tempos de Escuridão (2020)

Uma das coisas que mais mexem comigo em um filme é o poder de transformação que ele promove sobre meus pensamentos após assisti-lo. A somatização da reflexão, empatia, revolta e por vezes alívio diante dos desdobramentos felizmente positivos são alguns movimentos internos que me deixa impactado e até resiliente para os desafios que deparo no dia a dia. A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) continua sendo um assunto bastante latente mais de 80 anos depois, com feridas abertas e cicatrizes mal curadas que assolou gerações e ainda assombra a vida de milhares de pessoas. Diante disso, inúmeras produções cinematográficas foram produzidas sobre o tema, com a tentativa de preencher esse enorme quebra-cabeças histórico.

Muitos países foram envolvidos nesse conflito, alguns declararam apoio forçado, outros mantiveram uma neutralidade que no final das contas foi insolúvel, já que a ocupação direcionava aos interesses beligerantes. A Dinamarca foi um desses países com bandeira branca, mas que se viu amordaçada por uma Alemanha opressora e cada vez mais influente na política interna do país. O filme “Tempos de Escuridão” (De forbandede år / Dinamarca / 2020) é a primeira de duas partes que mostra essa interferência que vai se formando gradativamente, com uma escalada de violência física e psicológica nos pacatos residentes do país. Tentei assistir a esse filme algumas vezes, porém, por uma questão de falta de sincronismo da legenda na transmissão do streaming do Looke, meu interesse era momentaneamente drenado.

Mas o problema foi resolvido e ao acessar o filme no catálogo, logo percebi que poderia assistir sem maiores sobressaltos. A história gira em torno do industrial Karl Skov (Jesper Christensen), dono de uma fábrica de eletrônicos, com uma produção que vai de vento em popa, sendo obrigado a mudar os rumos do seu negócio quando ocorre a invasão alemã em seu país em 1940. Num primeiro momento, questões políticas e sociais sofrem poucas interferências, mas no decorrer do tempo os invasores iniciam uma sequência de perseguições a pessoas de origem judia e à todos que se manifestam contra o regime nazista. O ponto nevrálgico a partir desse momento é a enorme discrepância de pensamentos da família de Karl, seus filhos e esposa, além dos empregados, cada qual com segredos perigosos.

O passado de Karl não é retratado, mas em 1940 temos o protagonista com uma idade beirando os 75 anos, com um filho (Michael, Gustav Dyekjær Giese), servindo às Forças Armadas do país, provavelmente do primeiro casamento. Já na segunda relação, temos inclusive a celebração do aniversário de 25 anos de matrimônio de Karl e Eva Skov (Bodil Jørgensen). Nesse contexto, os quatro filhos do casal são descritos com personalidades e interesses absolutamente diferentes. O mais velho, Aksel Skov (Mads Reuther), um jovem idealista que apoia à Resistência (une-se a clandestinos que pretendem derrubar o regime nazista por meio de atentados contra as instalações físicas do Eixo), sempre movido por ações impulsivas. O eventual apoio da Dinamarca ao regime nazista contra os comunistas da União Soviética é o primeiro desacordo entre ele e o meio-irmão Michael, já que esse último acredita que poderá servir o seu país por ideal coletivo acima de qualquer coisa.

Os outros filhos do casal são Knud Skov (Lue Dittmann Støvelbæk), um jovem músico de jazz que possui uma limitação física para andar, Helene Skov (Sara Viktoria Bjerregaard), uma jovem adolescente que logo se apaixona por um Oficial da Marinha alemã, provocando uma erupção dentro da família e o adolescente Valdemar Skov (Sylvester Byder). O bom de ser um filme longo, de aproximadamente 2 horas e meia, é que é possível aprofundarmos em vários personagens e suas motivações. Mas o que realmente atrapalha muito é a desinformação que ocorria naquela época, pois ninguém tinha a menor ideia do que estava acontecendo na Alemanha. A propaganda local só pedia para os dinamarqueses serem cordiais com a presença alemã no país, pois qualquer comportamento contrário poderia ocasionar crises institucionais.

Karl é movido pela crença de que as pessoas têm boas intenções, apesar de mostrar-se contrário à presença alemã na Dinamarca, ainda acreditava no Parlamento e que a guerra acabaria em breve. Isso o levou a quase perder a fábrica, antes disso já havia feito dezenas de demissões, para que pudesse mantê-la em funcionamento. Sempre resistente a realizar acordos comerciais com os alemães, logo é demovido dessa intenção, acaba sendo absorvido pelo sistema e celebra contratos de cooperação, mesmo sem saber ao certo para qual finalidade sua produção atenderia aos interesses alemães. Paralelo a isso, seus filhos corriam em direções opostas, um participava da guerrilha e era perseguido pela polícia local, que apesar de ainda ser gerida pela Dinamarca, a influência nazista era evidente, pois eles cumpriam diversos mandados de prisão ordenados pelo regime nazista instalado no país.

Apesar de toda desordem, Karl ainda conseguia manter um nível de vida confortável para sua família, mas a medida que o tempo passava, o que era tida como uma ocupação provisória e “pacífica” desde 1940, esse fato já não se repetia nos anos seguintes, com uma intensificação da violência e interferência direta na política e qualquer atividade comercial do país pelos alemães. A Dinamarca não era mais uma nação neutra, ao contrário, estava amordaçada e obrigada a seguir as ordens da Alemanha. Karl tentava manter a sanidade para evitar que infligissem sua família e os negócios, mas seus filhos seguiam caminhos conflituosos e destoantes, cada dia era um problema a ser administrado com a polícia local, que milagrosamente era amigável com Karl. A esposa de Karl se mostrava cada vez mais contra o regime nazista, por algumas vezes colocando essa insatisfação em evidência, gerando um clima claustrofóbico que poderia colocar a família em grande risco.

Muitas pessoas não tiveram escolhas, simplesmente foram absorvidas para aquela hecatombe de atrocidades humanas, movidas em quase todos os momentos pela falta de informação ou mesmo propagação de notícias falsas. O filme deixa isso bem claro quando Karl tranquiliza a esposa dizendo que um casal de amigos de origem judia foi deslocado para um “Campo de Trabalho”, mostrando que ninguém tinha ideia do que eram aquelas instalações de extermínio de judeus. Karl passa a ter uma breve noção das terríveis atrocidades cometidas quando Michael retorna de uma missão e no encontro o filho relata que era obrigado a fazer pessoas a cavarem a própria cova e depois atiravam em suas nucas com o “sangue dessas pessoas espirrando nele”. Foi um momento de choque traumático, ainda mais vindo de uma pessoa que ansiava em servir à pátria com ações altruístas.

Deixarei o restante da experiência a cargo de quem se interessar em assistir, mas afirmo que é um excelente filme, mostrado sob o ângulo de uma nação que nada tinha a ver com toda aquela confusão instalada na Europa na primeira metade do século passado. Essencial para que as reflexões continuem vivas e não se percam nas páginas do passado. A vigilância é imprescindível para que não deixemos essas atrocidades serem repetidas.

E mais um recado: leia livros, seja bem informado nas coisas que acredita para que possa defendê-las com argumento e sabedoria!

sábado, 11 de outubro de 2025

A Mulher na Cabine 10 (2025)

 

Para quem gosta de mistério, esse filme garante um bom programa para o final de semana, já que reúne bons elementos detetivescos ao longo da trama. A primeira coisa a se fazer é não confiar em nenhum personagem, pois cada um guarda, esconde ou omite segredos relevantes para seus propósitos. É claro que dizer que todos os personagens são culpados beira a histeria, afinal, um filme de pouco mais de 90 minutos soaria superficial demais para conseguir cobrir várias camadas. Dito isso, vou falar um pouquinho de “A Mulher na Cabine 10”, que acabou de chegar à plataforma da Netflix, mais precisamente no dia 10 de outubro de 2025. Só para lembrar, esse filme é baseado no livro homônimo da autora inglesa Ruth Ware.

O componente psicológico é a mola central para que “grudemos” a atenção na protagonista, a jornalista Lo Blacklock (Keira Knightley), que retorna ao trabalho após uma breve pausa em função de uma matéria de campo produzida e publicada por ela que infelizmente terminou com a morte de uma pessoa. Essa morte em questão é mostrada em flashbacks picotados das lembranças da jornalista, algo importante para o que virá pela frente. Logo no primeiro dia no escritório, em poucos minutos à frente do computador, a jornalista recebe um convite tentador: escrever uma matéria in loco sobre milionários que passarão o final de semana em alto-mar para celebrar um evento filantrópico. A paisagem natural é um ponto de impacto, golaço da produção!

A bordo da viagem inaugural do iate Aurora Borealis, os convidados foram recebidos por champagne chique, passando por um rito de boas maneiras, como por exemplo a obrigatoriedade de tirar os calçados antes do embarque, nada como uma introdução tranquila e didática. Os personagens são caricatos, todos com caras, bocas e olhares aleatórios, mas sempre com os seus egos monetários exalando futilidades em cada frase. Empresário, socialite, influencer, roqueiro, médico, fotógrafo paparazzi e seguranças “altamente” profissionais, todos em cena para promoverem um final de semana inesquecível em alto-mar. O casal anfitrião e “podres” de rico são formados pelo Richard Bullmer (Guy Pearce) e Anne Bullmer (Lisa Loven Kongsli), essa que enfrenta um câncer terminal e que exigiu a presença da jornalista Lo Blacklock na viagem.

Sou compreensivo quando o filme não consegue dar o merecido espaço a muitos personagens, o tempo é curto e existe a necessidade de concentrar forças no núcleo principal, volta e meia destinado a no máximo três (e olhe lá!). Por isso, a sequência de cenas não permite divagações, cada tomada é uma peça de quebra-cabeças, todos vão formando um corpo e ao final, descobrimos a motivação do crime ocorrido. Dentro desse labirinto de fantasias criada por uma mente engenhosa, não era esperado que justamente a personagem principal fosse descobrir fragmentos do “crime perfeito”, chamando a atenção para pessoas preocupadas tão e somente com suas contas bancárias e aparências físicas do que creditar valor a um “grito de socorro” para algo muito grave que aconteceu e que passou despercebido por todos que estavam naquela embarcação.

Estou tentando não dar spoilers, acho desagradável estragar a experiência de quem gosta de investigar por seus próprios instintos. Posso dizer que a “pobre” Anne Bullmer enfrenta um câncer terminal e uma de suas últimas vontades era doar toda sua riqueza para uma instituição de caridade, isso mostrar no primeiro encontro entre ela com a Lo Blacklock, convidada para “melhorar” o texto a ser discursado diante dos convidados. Cansada, ela encerra a conversa e pede que a jornalista retorne no dia seguinte para continuarem com a revisão do texto. É a partir desse instante que muitas coisas passam a ocorrer ao mesmo tempo, talvez por isso o roteiro “entrega de bandeja” informações “mastigadas” para o telespectador.

Algumas cenas de continuidade deixam a desejar, como o momento em que jornalista simplesmente “aceita” a versão de que as câmeras da embarcação estão desligadas por se tratar de um evento privado com pessoas muito importantes da alta cúpula social que requerem privacidade. Por que ela não duvidou disso e tentou à própria sorte descobrir se isso era mesmo verdade? O fotógrafo “boca aberta” que se comporta como um idiota quase que o filme inteiro e em certa parte muda radicalmente de postura, revelando um roteiro consertado como esparadrapo. No mais, alguns personagens são letárgicos em seus papéis, engessados por comportamentos figurantes, com sobressaltos (necessários) aqui e ali. Caminhando para o final, a jornalista se depara com fantasmas psicológicos do último caso em que esteve envolvida, seguida de uma tentativa de homicídio que sofreu no iate, desacreditada por todos.

A Mulher na Cabine 10 merece minha nota 8 (número da cabine da Lo Blacklock), pois entrega mais do que eu mesmo esperava pela curtinha duração. Ainda acho que seria melhor desenrolado se fosse transformada em uma série de 8 episódios ou coisa do tipo, quem sabe isso possa ser realidade no futuro. Tentei não dar spoilers, apesar que o filme faz isso a cada 15 minutos (risos) com suas tomadas autodescritivas. E por último, encerrando minha breve análise, digo: sim, para quase tudo no mundo material, o dinheiro fala ou grita mais alto. Fica a dica!

Até a próxima!

Obs.: prometo falar de música, tema do meu blog (risos).

domingo, 20 de julho de 2025

Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado (2025)


Antes de qualquer coisa, não sou um crítico de cinema, apenas e tão somente um apreciador de filmes e séries, condição que me permite escrever sob o ponto de vista de alguém que não precisa mapear detalhes a respeito de qualquer uma dessas produções. Tenho acompanhado algumas críticas negativas a respeito do novo filme intitulado “Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado”, lançado no Brasil no dia 17 de julho de 2025. Por envolver nostalgia que remonta a uma época em que eu ainda assistia televisão “largado” no sofá sob a atmosfera do descompromisso natural da idade (os tais boletos ainda eram ficção científica na minha vida – risos), não terei o rigor técnico de um especialista para qualificar sequência de cenas que porventura fugiram do meu agrado.

Um filme que se preza a resgatar o espírito da ideia original, sem perder de vista o farol norteador do tempo presente, certamente terá que enfrentar desafios, pois o público está cada vez mais exigente e menos paciente. A pressa se tornou um critério de pontuação inusitado, superando muitas vezes mensagens subliminares de enredo e aspectos visuais que escapam de uma percepção atenta e focada durante a experiência imersiva. Largar o telefone móvel para assistir a um filme é um esforço homérico, talvez o exercício cultural mais difícil de se realizar hoje em dia. Nesse turbilhão de variáveis temos o tal filme que traz à luz os evitáveis acontecimentos do último verão. Um grupo de jovens provoca culposamente um acidente automobilístico e, diferente do primeiro filme, informam às autoridades locais, tudo para minimizar o remorso coletivo.

Tudo isso aconteceu onde? Em Southport, é claro! Cidade litorânea em que tudo acontece (apesar de não chegar nem perto das esquisitices de Riverdale – risos). Sem spoiler, já que o filme é pão fresco na fornalha dos cinemas, esse grupo passa a ser perseguido por uma figura vestida com uma capa de chuva, um chapéu de pescador (não sabia que pescador tinha esse ornamento!) e um gancho sedento por sangue. Levei uns dois sustos durante a exibição no cinema, o que me deixou tremendamente satisfeito, uma vez que eu conheço a receita desse bolo de nozes (para quem entendeu a analogia), sem contar a presença ilustre dos personagens sobreviventes das histórias anteriores, a Julie (Jennifer Love Hewitt) e o Ray (Freddie Prince Jr.). A nova safra de atores ainda carece de um certo aspecto natural de atuação, acredito que a decoreba de roteiro não seja o antídoto para todos os males, é preciso encarnar e dar vida ao personagem (estou falando algo que na teoria é muito fácil!).

Em vez de despejar críticas cansadas e urgentes de atenção, prefiro atentar às inúmeras possibilidades de roteiro que o filme trouxe, como a minha dificuldade em descobrir a autoria dos assassinatos, por diversas vezes me peguei silenciosamente sendo “desmentido” no cinema. Errei o “assassino” pelo menos umas cinco vezes, não por incompetência, mas por mudanças de direção do roteiro, algumas com êxito, outras nem tanto. Os protagonistas de 1997 e 1998 foram inseridos como aquelas peças de quebra-cabeças com encaixe forçado, meio que na “marra”, mas acabaram entrando na história. Não gostei como foram aproveitados, talvez aí seja um sangramento difícil de ser estancado. Como eu vejo o lado positivo, só o fato deles terem topado a empreitada, independente do motivo, já me deixou alegrinho (risos). Muitos falarão em desperdício de talento, pode até ser, mas ainda insisto na nostalgia, uma carta alta nesse jogo de subjetividade.

Outra coisa a ser considerada é a atmosfera criada dentro da sala de cinema. Um telão gigante, poucas pessoas presentes e um silêncio quase absoluto faz toda a diferença. Mesmo que o filme não seja bom, a experiência nessas condições realmente aflora um bom voto de confiança. Nada contra os dubladores, mas assistir legendado é para mim como manter o espírito dentro do corpo do ator/atriz. Em outras palavras, nada e ninguém conseguiu atrapalhar minhas impressões positivas, mesmo porquê se eu for tomar as impressões e análises somente pela ótica dos canais na internet, sobrarão poucas opções para eu assistir ou mesmo ficarei dividido entre os que atiram pedras com os que oferecem salva de palmas. Uso os canais como referência para elucidação de cenas que eu não entendi, não para buscar opinião pessoal, vou pela objetividade, pois a subjetividade é indispensavelmente um aspecto que não abro mão de tomar frente.

Em determinado momento o filme aborda um assunto que é tão delicado quanto as anteninhas de uma formiga operária: a questão psicológica das pessoas. Como solucionar traumas? É possível extraí-lo do ser humano afetado? Ou simplesmente “adormecer” o problema em um quarto trancado da alma para sempre? Partindo dessa Caixa de Pandora que reside em cada indivíduo, é possível refletirmos sobre aspectos que possam acionar gatilhos que jamais acreditávamos que poderiam emergir à superfície. É nesse instante que eu percebo como a engrenagem pode ruir com um simples desarranjo comportamental. Talvez o filme não tenha desenvolvido com a clareza necessária as cenas dessa natureza para melhor assimilação do telespectador, o que não invalida a intenção do enredo em escancarar um problema silente que assola dezenas de milhares de pessoas.

Antes de encerrar, e sobretudo pontuando sobre algumas cenas, não gostei de determinadas continuidades (ou falta delas), pois isso deixou margem para o roteiro receber uma enxurrada de críticas. Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado não é uma sumidade em excelência, ainda mais porque se passaram quase 30 anos dentro desse universo expandido de Southport (que continua com uma paisagem natural exuberante), onde novos personagens foram introduzidos, com a imperiosa missão de atender gregos, troianos e varzeanos. E claro, aos críticos barulhentos (risos). Filmes como esse precisam ter clichês e cenas malfeitas (mesmo que acidentalmente) para que sejam cultuados no futuro, assim fazemos com produções antigas, pois vai se criando uma espécie de charme que melhora com o tempo. Assisto com olhar de entretenimento, sem o peso obrigatório e muitas vezes intrínseco da profissão de “precisar” gostar para escrever boa resenha ou não gostar para listar 480 erros. Talvez a despretensão seja o tal “pulo do gato” dentro da minha realidade.

Nos vemos por aí, em breve!

domingo, 27 de abril de 2025

Jacob Tyler (2024)

Para falar sobre um filme europeu, temos que ter em mente que a abordagem narrativa dos diálogos e até mesmo na condução das cenas é muito diferente do que estamos acostumados em relação aos filmes norte-americanos. Dito isso, acabei de assistir a película “Jacob Tyler”, lançado em 2024, sendo produzido, dirigido e estrelado no papel principal por Mitchell James Ronald, jovem britânico de 28 anos de idade e que já apresenta bons traços de habilidade em criar enredos complexos. É importante destacar que esse foi o primeiro filme produzido por ele, e logo de cara uma produção com mais de 2 horas de duração, uma aposta alta que, independente do resultado, merece ser enaltecida pela coragem.

A história começa com um rápido feedback, no qual o protagonista, vivido na pele de Jacob Tyler (Mitchell James Ronald), é espancado por um grupo de jovens por um motivo não revelado, mas que já expõe desde o início um problema crônico de violência que ocorre no mundo inteiro. Depois disso, é mostrado várias cenas propositalmente malfeitas de vídeos amadores publicados em redes sociais retratando indivíduos usando máscaras de palhaço no cometimento de atos de violência contra pessoas totalmente indefesas (e ainda que alguma forma de resistência fosse apresentada pelas vítimas, só o vandalismo por si só já definia a covardia mostrada em tela). Para circundar o espectro dramático, as cenas são tratadas com pouca luminosidade e muitas sombras, outro obstáculo claustrofóbico para os potenciais alvos.

O protagonista retorna do cumprimento obrigatório do Exército e percebe que a vida na pequena cidade de Calder (espero que seja realmente o nome fictício desse lugar – por favor responsabilizem o site Filmow pela informação – risos) prosseguiu sem maiores acontecimentos. Mas essa cortina branca logo se empalidece com a atmosfera estranha percebida em pequenos acontecimentos, como um assalto em plena luz do dia, em que os amigos de Jacob fazem vista grossa para a vítima mulher, enquanto que Mitchell intervém e consegue restabelecer a ordem. Aquilo já coloca uma “pulga atrás da orelha” do que realmente estava acontecendo naquela cidade, aparentemente calma, mas cheia de segredos adormecidos. Jacob se estabelece em sua casa junto com a irmã Beth Tyler (Keryn Matthew), onde fica evidenciado num rápido diálogo que seus pais faleceram recentemente.

Após essa introdução que consumiu quase 15 minutos de tela, uma festa surpresa para celebrar o retorno de Jacob é organizada pelos seus amigos dos tempos ginasiais, onde vários personagens são apresentados na trama, alguns com boa espontaneidade, outros mais introvertidos dentro de atuações básicas e robóticas. As construções dos diálogos foram um pouco confusas, ainda que eu tenha conseguido entender os arcos não resolvidos ou pendentes nas relações, principalmente as paixonites retraídas entre os eventuais casais. Na hora eu pensei: coisas da idade! A “saída à francesa” de Jason (Cameron Gow) foi percebida lá pelas tantas e após Henry (Yannik Borzynski) telefonar para o amigo, confirma o fato. Jason está caminhando numa estrada em completa penumbra e percebe que está sendo seguido por alguns “vultos”. Ao registrar uma foto com flash para poder identificar melhor, descobre que três indivíduos usando máscara de palhaço estão no seu encalço, momento em que ele começa a correr e adentra um matagal mais escuro ainda (nada inteligente da parte dele!).

Os detetives Abrams (Ibrahim Bakhait) e Fazier (Rohanne Woods) são encarregados do caso e logo as buscas são iniciadas. Só achei estranho a polícia não seguir o prazo de 24 horas para efetivar um caso de desaparecimento e a partir disso iniciar esse procedimento operacional (não sei se no Reino Unido a lei é diferente). Jason é milagrosamente encontrado vivo, desacordado na mata, todo machucado, resultado nítido de um espancamento coletivo. Enquanto Abrams é retratado como um policial com mais experiência e lida com problemas particulares, a detetive Fazier é uma novata e que num primeiro momento está mais preocupada com a pronúncia correta do seu nome. Não gostei muito dos estereótipos de ambos, a impressão que eu tive é que eles estavam muito retidos a um roteiro programado, mas isso foi apenas um incômodo passageiro.

A principal informação da história enfim foi escancarada diante de Jacob, ao saber que uma gangue de indivíduos usando máscaras de palhaços tem causado um inferno aos moradores locais. E o objetivo da gangue é o tráfico de drogas, por meio do envolvimento de intermediários (muitos deles metidos nesse meio devido a problemas financeiros). E os intermediários são bem próximos de Jacob, que custou a acreditar que seus amigos teriam qualquer relação com a gangue. Ocorre que Jason encontra o fim logo após sair do hospital, um personagem que foi marcado por usar uma camiseta do Iron Maiden e que pouco acrescentou à trama, somente confusão e uma atitude pouca espirituosa. Uma pessoa que é atacada por marginais mascarados, que consegue escapar vivo após ser espancado, é no mínimo pouco inteligente voltar à rotina normal e sair andando à noite pelas ruas como se nada tivesse acontecido, não?! Pois bem, ele pagou pra ver e isso custou caro!

A partir daí, o espírito corajoso de Jacob, transformado após uma importante vivência no Exército, resolve fazer justiça com as próprias mãos, saindo à noite, todo encapuzado e com uma máscara dissimulada no rosto. É aí que identifiquei falhas de continuidade em certas cenas, além do descaso policial em fazer rondas nas ruas, além de toda uma “bolha” colocada propositalmente nas cenas para pavimentar o sucesso do protagonista. Ainda que ele tenha se envolvido em brigas corpo a corpo com um dos palhaços, é nítido que a cidade opera por “controle remoto”, pois parece que se “congela” tudo para que o protagonista consiga lidar com essa célula da gangue. Outra personagem bastante questionável foi a Rachel, interpretada pela atriz Abby Fisher, que no passado foi a namorada (ou quase) de Jacob. Intervenções bastante monótonas, com um roteiro decorado, apesar do esforço da personagem em ser mais incisiva. Ela queria o bem do rapaz, apesar de não mover um palmo do metro quadrado a que foi destinada a atuar.

Gangue dos Palhaços
Gangue dos Palhaços

Não se enganem com a minha disposição com o filme até aqui, estou gostando, pois a empatia que eu criei foi o suficiente para adentrar à aquele universo de poucas respostas e muita penumbra. Enquanto a gangue era sabida do conhecimento de todos, a inoperância do distrito policial me deixava constrangido, não era possível que uma mísera operação não era montada para tentar interceptar contatos diretos e indiretos, com a finalidade de desmontar o tráfico. Mas tudo bem, a proposta do enredo era enaltecer a indignação do Jacob, que tentava entender o que estava acontecendo desde sua partida para o Exército. Outro amigo de Jacob que estava envolvido com o tráfico, Dominic (Reece Young) foi esfaqueado pelos próprios comparsas que viram nele um alvo identificado na gangue mascarada e que poderia trazer problemas futuros.

O filme poderia ser encurtado? Sim, mas eu estava curioso e com boas expectativas para seguir o raciocínio de seu idealizador, uma vez que derrubar uma organização criminosa, independente do tamanho dela, requer muito mais que apenas dois punhos cerrados. O policial Abrams protagonizou uma cena bisonha, quando interrogou o dono de uma suspeita mercearia, ao sair do local, resolveu investigar clandestinamente e ao ser surpreendido pelo proprietário, foi espancado e pediu clemência para não morrer ali. Foi um momento degradante, apesar que a “fácil” cooperação com o protagonista que havia arquitetado um plano para surpreender e prender a gangue tenha sido a famosa “manobra” de enredo, foi pior ainda. E quem seria o palhaço infiltrado (ou ela) que apareceu sorrateiramente na casa de Sarah (Sarah Black)? Propósito somente em aterrorizá-la? Ou têm mais coisas obscuras nessa investida misteriosa?

Ao final, todos os membros (será mesmo?) reunidos numa área de matas, onde o dia e a noite celebraram uma união sem noivado, onde o líder da gangue fora finalmente revelado. Um tal de Gaz (David McCallum), um ser errático desde os tempos adolescentes, que praticava bullying de todas as formas no Jacob e nos demais envolvidos desde os tempos de escola. Ocorre que ele construiu uma sofisticada rede de tráfico de drogas, arregimentando desesperados por dinheiro e outros que possuíam algum “podre” do passado que, caso fosse revelado, arruinaria a vida da pessoa para sempre. Mas Jacob teve uma ideia interessante e astuta, porém, vou parando por aqui, terão que assistir para saber o que aconteceu. Sobre continuidade, ainda que o filme seja o embrião de um diretor que acabou de debutar no universo cinematográfico, estou curioso para saber como a vida de Jacob e seus amigos seguiram após os fatos trazidos neste artigo.

Não sou muito adepto a notas, mas penso que o diretor poderia criar um universo pregresso um pouco melhor para os personagens secundários, já que todos eles levam a ROMA (ops, a Jacob!!!). O filme é extenso e ao mesmo deu pouca profundidade aos personagens, não ficou muito claro a relação outrora de Jacob e Rachel, uma vez que houve pouco contato que levassem a uma intimidade entre eles (não falo de relações sexuais explícitas, mas sim de diálogo). Outro ponto a ser melhor abordado é o restaurante do tal Chad (Alan Clark), receptivo com todos, mas que não fornece nada de importante para a elucidação da gangue (inclusive reconhece que tem funcionário que ‘trabalha’ para o tráfico). No fim, não mostra a continuidade da dupla dinâmica policial, não traz uma conversa “clichê” deles sobre a grande prisão ocorrida, enfim, são lacunas que careceram de uma boa argamassa conclusiva.

O diretor Mitchell James Ronald tem pleno potencial para desenvolver boas tramas, só precisa encontrar os melhores laços para que na hora de desatá-los, seja de forma que não deixe o telespectador com mais dúvidas do que certezas. Se é um filme policial com toques de drama, ainda mais a respeito de um assunto presente na realidade cotidiana, precisa ser melhor trabalhado para que as pessoas possam vislumbrar resultados que sejam pelos caminhos legítimos das forças do Estado e não por ações isoladas calcadas em fatores casuais como sorte e oportunidade fora dos trâmites da lei, ainda que por altruísmo consolidado pelas atitudes de desejar a erradicação de células perniciosas para a harmonia do bem coletivo. Espero ver esse diretor em ação mais vezes, pois provou que merece oportunidades para construir coisas maiores! Falam que histórias por mais de 2 horas são arrastadas, mas quem diz isso está desacostumado com as produções britânicas, provavelmente não conhecem a belíssima (e longa) série policial VERA, que traz episódios extensos!

segunda-feira, 7 de abril de 2025

Filmes que vi e não gostei

Queridos amigos, estive um pouco ausente por diversas razões que provavelmente renderiam um bom livro de histórias aleatórias. Nos últimos dois meses fiz diversas atividades, desde corridas de rua, treinos bem aproveitados na academia, shows de rock pela cidade de São Paulo, cervejada com amigos depois do trabalho e outros que tais. Mas deixando de lado as minúcias de minha vida privada, quero trazer dois filmes que assisti recentemente e mesmo com toda boa vontade planetária, eu não consegui criar algum laço de ternura com essas produções. Escrever sobre coisas que gostamos é uma grande moleza, mas pontuar as decepções é um desafio que raramente conseguimos com excelência sem avacalharmos um pouco além do que o assunto analisado merece. Let’s go!

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Não é o fim



Começando pelo filme “Não é o fim” (It’s Not Over – Itália/2022), que traz a história de um casal que enfrenta problemas no casamento. Enquanto o marido é um médico daqueles plantonistas no horário noturno/madrugada, a esposa (Sarahvivida pela atriz Weronika Rosati) é uma fotógrafa com bastante potencial e que tenta manter a casa em ordem nas horas de folga. Para incrementar a história com querosene, ela trai o marido com uma certa frequência (Albert – John-James Colvin) nos momentos em que ele não está em casa – todo esse contexto é apresentado nos primeiros quinze minutos de filme. Ocorre que o marido é uma figura extremamente violenta, especialmente quando está alcoolizado, chegando às vias de fato contra sua esposa por motivos que beiram o ridículo (cobranças sem nexo ou fora de sintonia para a ocasião, coisa típica de quem perde o controle com a bebida.

Um belo dia o marido aparece morto dentro da casa, aparentemente golpeado na cabeça, na qual as autoridades chegando rapidamente à conclusão de que ele escorregou e teve um traumatismo craniano após a queda. Começo do filme e as coisas vão sendo entregues de bandeja, sem contar a falta de tempero dos personagens. Sarah mal cumpre o seu luto e já está com o namorido (Max – Gianni Capaldi) dentro de sua casa, ainda que ele não more lá, mas passa a maior parte do tempo com ela. Reconheço que o ex-amante dela e agora atual namorado é um boa praça, com boas qualidades que toda mulher gostaria de ter em um parceiro. Max é um tanto curioso e ao explorar a casa de sua girl, descobre coisas estranhas, como fotos reveladas de animais mortos (mutilados), registros feitos provavelmente por Sarah. É aí que a coisa toda colorida começa a desbotar.

Sarah não curte muito ser interpelada pelo namorado a respeito de suas atividades profissionais e o clima fica com tendência a azedar entre eles. Até que ela revela que é uma fotógrafa/artista, tentando provar que a natureza do seu trabalho é comum (apesar de ser um tanto incompreendido). Max que é perfeccionista, descobre sem querer uma informação importante a respeito de Sarah e quando se dá conta do que descobriu, é esfaqueado pela moça que minutos atrás fazia juras de amor a ele. Claro que temos uma morte bem chocante, afinal, o cara mais legal do filme já não estava mais entre nós. Sarah desaparece com o corpo e faz “cara de parede” quando os pais do Max a visitam procurando pelo filho, desaparecido há vários dias. Mais clichês? O pai de Max vai até a polícia e lá se depara com um tira cansado que não faz esforço nem para ir buscar um copo de café, quanto mais abrir investigações sobre o rapaz desaparecido. O detetive (Ian Reddington) tenta enrolar um preocupado Frank (Christopher Lambert) ao dizer que tem responsabilidade com o gasto público (que lição de moral mais infame ao dizer isso a um pai que está a beira de um colapso nervoso?!).

Os dias vão se passando e nada de Max aparecer, só em visões distorcidas e fantasmagóricas nos pesadelos de Sarah. Após quase enlouquecer com visões do ex-namorado, Sarah resolve ir até o local onde enterrou o cadáver e para seu alívio, ele está lá enterrado. Ocorre que ela foi seguida, eis que o restante do filme deixarei a cargo de quem leu até aqui o meu humilde resumo. O que não gostei ao assistir o filme foi a necessidade do diretor em querer explicar cena a cena ao telespectador, praticamente não teve mistério para quem estava assistindo, só a certeza de que a cena seguinte sempre viria com um gabarito completo do momento anterior. Isso desidrata completamente a densidade do mistério e faz evaporar qualquer clima de empatia, é como se o filme fosse obrigado por força de contrato a ser previsível, sem se importar com qualquer outra coisa, haja o que houver.

E claro, fiquei decepcionado com atuações pouco inspiradas e com roteiros decorados a técnicas de Telecurso 2000. No meu perfil pessoal do Instagram até cheguei a dizer que o filme é um bom passatempo para uma tarde de sábado, o que ratifico aqui, porém, se você encontrar coisa melhor pra fazer, diria para esgotar suas possibilidades antes de debruçar sobre esse filme com nota máxima valendo 2 e sem troco! Não disse?! Falar de filme bom é moleza, quero ver ter boa vontade escrita para resenhar algo que não precisamos só descer lenha, mas sim encontrar motivos razoáveis para dizer que poderia ter sido melhor se tivesse adotado um outro caminho. Filme disponível no serviço de streaming do Looke.

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Mistério na Índia



O nome original é “Backwaters” (Estados Unidos/2006), mas a tradução tentou deixar um ar de curiosidade na capa. Outro desperdício cinematográfico que tive a oportunidade de conferir. O meu tempo para ver esse filme nem chegou a ser um problema, segurei as pontas por cerca de 80 minutos e rapidamente “me despedi” dele sem qualquer remorso. O filme mostra um casal aparentemente bem-sucedido, ela uma atriz de cinema (Lili Taylor interpretada por Tamzin Outhwaite) e ele (Andy Becker vivido por Nicholas Irons), um escritor de romances que enfrenta um bloqueio criativo. O casamento deles não é lá essas coisas, e quando eles vão para uma “agitada” festa da alta sociedade, algumas situações já revelam que o caldo vai entornar muito em breve. 

Ainda sobre a festa, enquanto Lili provoca um clima com um importante produtor de cinema (ele aceita sem objeções), seu marido é cobrado pelo seu Agente a respeito do próximo livro, e o desconforto toma “sufoca” o ambiente por não ter a melhor resposta. Momentos depois, a atriz é flagrada pelo marido no “rala e rola” num dos quartos da mansão (o que já azeda de vez o clima para ele, apesar de presenciar a cena sem se fazer alarde, ele se retira do local com a testa doendo). Apesar de alegar ter bebido somente uma dose de uísque, Andy e Lili entram no carro (ela aos trôpega e quase desacordada = teor alcoólico pra lá de Bagdá) e assim vão embora. Ocorre que Andy dorme ao volante e ambos sofrem um acidente.

Depois de um salto temporal de 6 meses, a vida deles seguiu mais morosa que uma tartaruga disputando uma maratona no deserto, ela numa cadeira de rodas e o marido servindo preso a uma vida infeliz, ainda que ileso fisicamente do acidente que acometeu gravemente sua esposa. Os médicos realizam diversos exames nela e nada clínico é detectado, acreditam que um trauma psicológico decorrente do acidente é o que está impedindo Lili de voltar a andar. Ela, que está mais ranzinza do que nunca, fica inconsolável por ninguém conseguir devolver sua autonomia de locomoção, enquanto que um dos médicos sugere que o casal recorra a um tratamento alternativo. Nisso, o irmão da Lily (Jason Weiss, interpretado pelo ator Jason Flemyng) sugere ao casal ir à Índia realizar um tratamento especial, à base de massagens com ervas medicinais.

O casal chega à Índia e Lily é recepcionada como celebridade (a novela em que ela é protagonista está em exibição no país) e rapidamente devolve à mulher uma autoestima que há muito não se via. A relação do casal segue feita como água e óleo, e nesse ínterim, Andy se depara com a belíssima Sara Varghese (Sandra Teles) banhando-se em um lago intimista nos arredores do hotel em que ele está hospedado. Rapidamente eles criam um vínculo perigoso, pois Sara é casada e a câmera mostra alguém observando-os sempre que estão juntos (inclusive nas cenas impróprias para menores de 18 anos). Quando esse triângulo começava a criar forma de “lei do retorno”, Lily desaparece do hotel e reaparece morta na encosta de uma praia. Todas as suspeitas recaem para Andy, que não tem muito como explicar seus sumiços e na única chance que tem, é traído por Sara, que não confirma sua história para a polícia.

Uma história paralela a isso é a filha do policial, uma adolescente que é muito curiosa e está sempre à frente do computador pesquisando (curiando) as coisas, acaba descobrindo que o irmão de Lily não é de sangue, mas devido a uma relação do pai com outra mulher. Essa informação coloca o policial responsável pelas investigações com um dilema, apesar de teimar em manter sua posição de acreditar que Andy é o responsável pelo crime. Seguindo o exemplo do filme anterior, vou parando por aqui, deixarei o tal “Mistério da Índia” no ar, para ver se eu estou exigente demais para não ter gostado de como a coisa toda foi se desenvolvendo na trama. Não gostei pelo excesso de cenas descartáveis e até certo ponto meio que desafiando o intelecto de quem está assistindo.

Essa mistura de romance com mistério seguido de morte talvez quis trazer um pouco de Agatha Christie para a história, mas o resultado foi bem fraquinho, longe de uma sequência cinematográfica marcante, em que o resultado obtido somente os baixos orçamentos são capazes de promover, observado aqui claramente pela falta de recursos para cenas melhores. Ainda que a trama seja manjada pela motivação dos crimes, acredito que a receita pronta poderia ser melhor desenvolvida. É isso meus amigos, a curiosidade falou mais alto e acabei passando por momentos “desafiadores” de resiliência para ver esses filmes. Mas não levem minha opinião como resposta definitiva, convido-os a assistirem essas “tentativas” de longa-metragem, vamos “melhorar” o horizonte perceptivo que não consegui vislumbrar. Nota 3 só porque o filme atravessou o continente. Também no streaming do Looke.