Por Daniel Gonçalves
É com grande satisfação que escrevo este relato a respeito da minha participação na V Meia Maratona de Avaré & 7 Km Alecrim. A prova ocorreu no dia 26 de janeiro de 2025, e diferente do título da prova, a distância foi um pouquinho mais que os tradicionais 21,097 metros, digamos que houve um arredondamento para 22Km. Para o leigo e o atleta bem treinado isso não faz diferença, mas para mim, que no momento não me considero nem uma coisa nem outra, faz um tremendo estrago (risos). E de onde vem esse nome Alecrim? Fácil, é o nome do restaurante que apoia o evento, e nada melhor que fazer o tal “merchan” logo na entrada de tudo!
Viajei à cidade de Avaré/SP na véspera, em um trajeto de ônibus, partindo da Estação Rodoviária da Barra Funda (São Paulo) com a duração aproximada de 3 horas e 15 minutos. E tudo correu perfeitamente bem, exceto pela ausência de entrada USB no encosto do assento (estou mal-acostumado). A passagem (só de ida) custou R$ 124,00, sem contar as taxas de serviço, que no final das contas totalizou R$ 161,32. Admito que estava meio por fora dos valores, apesar de saber que combustível, pedágios e os custos em geral encareceram bastante, não tenho informações suficientes para dizer se está caro ou barato, o que tenho plena consciência é que com as condições atuais, não é todo mundo que empreende viagens, perceptível pelo alto número de assentos vazios.
Ao chegar, me deparei com uma velha conhecida: a temperatura! Uma sensação de estar sendo cozido pelo sol escaldante e abafado. O tal mormaço que sentimos quando estamos em uma praia, era exatamente a sensação que eu estava sentindo naquele instante e que seria a tônica do meu final de semana em Avaré/SP. Fui logo retirar o kit de participação, que consistia numa bela camiseta, chip retornável, número de identificação e alguns alfinetes. Pelo preço da inscrição (R$ 70 + impostos) até que foi razoável. Sem filas, essa parte da logística foi espertamente montada na entrada do Restaurante Alecrim, tudo facilitado por estar localizado no centro da cidade, onde tudo era perto de tudo, sem a necessidade de grandes deslocamentos.
Aproveitei a ocasião e já almocei no local, que é oportunamente prestigiado no título dos 7 Km do evento (prova menor é uma boa alternativa para deixar o evento com mais presença de participantes). Gastei cerca de R$ 75, entre o almoço por quilo e o famigerado refrigerante. Também experimentei uma Limonada Suíça e Morango (deliciosa!). Em seguida, fui atrás do Pão de Açúcar da cidade, conforme consta até hoje no Google Maps. Para minha surpresa, o local já não existe mais (desde o final de 2023) e no lugar vigora uma loja de departamentos. Primeira bola fora, o tal GPS erra até para quem está a pé (risos). Bom mesmo foi perceber que Avaré/SP aparentemente é uma cidade pacata, pelo menos naquela primeira impressão, o que constatei involuntariamente foi o grande número de farmácias, talvez um dia eu descubra o motivo.
Mas tudo bem, primeiro percalço superado sem traumas, já que havia um supermercado na mesma avenida (Supermercado Dona Maria – nunca tinha ouvido falar – mas gostei da grande variedade de opções). Momentos antes, não pestanejei e passei na farmácia para comprar protetor solar, era urgente para a ocasião. Cheguei ao Avaré Plaza Slim (cerca de 1,3Km de onde eu estava) e rapidamente liguei o ar-condicionado. Quarto simples mas acolhedor. E custou uma justa bagatela de R$ 158,00 (1 diária via Booking). No aplicativo era informado que o café da manhã não estava incluso, mas quando cheguei à recepção do hotel, fui informado do contrário, que haveria o desjejum das 06h00 as 10h00 (boa notícia para compensar a pernada à toa em busca do Pão de Açúcar momentos antes).
Ainda no sábado, preocupado em estar devidamente alimentado, já que o desafio do dia seguinte causava mais medo que prazer, fui procurar uma pizzaria. E a busca foi bem sucedida, depois de uma caminhada de aproximadamente 20 minutos, cheguei à Pizzaria Paulistana, um local extremamente aconchegante e com acabamento rústico conservado, tive a sensação de recuar algumas décadas no tempo dentro daquele lugar. Os meus R$ 77,00 entre um broto e refrigerantes foram bem gastos! Fiquei no dilema entre dormir com o ar-condicionado ligado ou deixar o calor ocupar plenamente o ambiente, mas acabei optando pela tecnologia e dessa forma encerrei o meu sábado, véspera de uma grande escalada que me aguardava no dia seguinte.
Acordei por volta das 04h45min e rapidamente me aprontei para a batalha. A distância do hotel em relação ao Horto Florestal de Avaré não chegava a 1Km, e em poucos minutos já me encontrava dentro do grande espaço verde. Nada de chuva, apenas a expectativa pela claridade, já que 05h30 em Avaré ainda estava escuro. Só lembrando que a largada para os 22Km estava prevista para 06h00 e os 7Km às 07h00. Aos poucos os corredores foram surgindo e deixando a área de concentração do evento bem movimentado, cada um com sua forma de preparo, uns dando pequenos trotes de aquecimento, outros realizando alongamentos, outros simplesmente sentados em grupos com as velhas conhecidas resenhas que toda corrida tem. Optei por ficar circundando o local, para me “ambientar” ao mesmo tempo em que repassava mentalmente meus planos para a prova (tentar correr bem solto no início para chegar “inteiro” fisicamente na metade da prova).
A largada ocorreu às 06h23 (atraso que fiquei pensando como poderia ser oneroso quando o sol resolvesse marcar presença), mas não tinha outro jeito, o negócio era correr e se divertir. Os primeiros 3Km foram com os corredores bem próximos um dos outros, em uma superfície totalmente de terra batida, e por ser na região de uma reserva natural, muitas árvores pelo caminho. As subidas enganavam, pois não eram íngremes, mas convidativas a acelerar o ritmo, levando o corpo a acreditar que se tratava de momentos fáceis. E eu fui levado por essa “armadilha”, acelerei em trechos que me custou energia mais adiante. Quero deixar claro a minha “culpa no cartório”, eu realmente não havia treinado o suficiente para estar na plenitude física de encarar aquele desafio, mas fui com a cara, coragem e um atrevimento juvenil de iniciar o ano com uma prova complicada.
Diferentemente da minha “era de ouro” das corridas de aventura, tive que conviver com o fato de não estar em condições de ser ousado, de propor uma atitude com velocidade progressiva, fui obrigado a manter um ritmo de trote moderado a partir do Km 12, antes disso vinha num ritmo constante em que raramente era ultrapassado, com o contrapeso de que também não fazia ultrapassagens (galera no geral mandou bem nessa prova). A partir da metade do percurso, tive que entender que o meu corpo só responderia a comandos básicos do tipo “vamos completar a prova, não tente performance, a meta hoje é de sobrevivência esportiva”. E assim fui sendo “convencido” a seguir de forma burocrática, sendo que nas subidas com cara de barranco eu caminhava, tentando compensar nos trechos de retas.
O meu composto muscular, pernas, caixa torácica e o organismo em si, estavam ótimos, sem dores decorrentes de excesso de carga, nem nada que realmente pudesse me atrasar pelos dias posteriores. Mas eu estava numa condição de cansaço que havia experimentado poucas vezes na vida, nem mesmo o final de semana correto, desde a parte de alimentação, descanso e outras precauções tomadas foram suficientes para escapar de um a fadiga extrema que eu estava sentindo. Fato motivador mesmo foi encontrar alguns corredores pelo caminho (que me alcançaram, já que eu não tinha a mínima condição de “buscar” ninguém) que ora caminhavam no mesmo instante que eu, ora arriscavam reiniciar o esforço de correr e sempre bastante simpáticos, todos com suas estratégias para completar a prova. Tinha um fotógrafo pelo percurso, Walter Contessotti Júnior, que fez ótimos registros, e aqui deixo os meus agradecimentos.
O serviço de hidratação foi bem executado, não faltou água em nenhum dos momentos por onde passei, sendo que lá pelas tantas, acredito que próximo do KM 15, teve frutas e isotônico (ou suco de uva, não lembro ao certo, sei que era sabor uva, gelado e adocicado – risos). Em vários momentos me vi correndo sozinho, com figuras minúsculas de atletas no horizonte, situação similar quando arriscava olhar para trás. Momento esse que me conectei com vários pensamentos, nenhum deles negativo, mas sim reflexões de vida, e a gratidão por estar naquele lugar fazendo algo que comecei em 2001, quando tinha 16 anos de idade. No alto dos meus 40 anos, me sinto forte mentalmente e com saúde suficiente para manter um legado pessoal do qual me orgulha nas corridas de rua e de aventura.
O grande trunfo da organização, fator praticamente imbatível em qualquer roda argumentativa é o percurso ser em volta única, diferente das famigeradas provas de 21KM na cidade de São Paulo, que consiste em trechos de ida e volta (metade/metade), e que, dependendo do trajeto, fica terrivelmente entediante correr em tais condições. O percurso se torna desafiador e ao mesmo tempo um sentimento constante de expectativa, pois cada pedacinho percorrido não será visto novamente. Nisso eu tenho que aplaudir em pé os envolvidos, uma empreitada que foi com sobras bem-sucedida. E o final, entre trilhas fechadas e sinuosas, com retas que aliviavam o esforço anterior, foi praticamente como ser puxado por uma força invisível, da qual eu agradeço por saber que nos momentos extenuantes, existe uma última cartada para salvar todos.
De um total de 176 corredores, entre homens e mulheres, fiquei na posição de número 130, o que comprova tudo que escrevi neste relato, resultado da soma de diversas dificuldades, mas todas vencidas, sem perder de vista a maravilhosa experiência de correr (e caminhar) na cidade de Avaré/SP. Fechei com o tempo de 02:11:47, praticamente com o tanque de energia vazio, mas com a sensação de ter superado mais um desafio. Nem preciso dizer que me sinto em débito com essa corrida, na qual eu coloquei na lista de prioridades, com o objetivo de retornar em 2026 e fazer um papel mais condizente com o que posso oferecer. Peguei a belíssima medalha, além de me servir de um ótimo banquete de frutas, com suco e água em abundância, que podia pegar à vontade. Pelo calor e mormaço queimando os neurônios aquela altura, não fiquei para ver a premiação, rapidamente retornei ao hotel.
Ainda consegui tomar um mega café da manhã no hotel, e antes de entregar as chaves na recepção e fechar a conta, pude descansar por uns bons 40 minutos. A minha aventura estava chegando ao fim, com a partida do ônibus prevista para às 13h00. Peguei um baita congestionamento no caminho, acompanhado de um dilúvio, e o que era para ser uma chegada às 16h30, foi verdadeiramente acontecer às 18h10, no Terminal Rodoviário da Barra Funda. A passagem de volta custou um pouco menos, o valor de R$ 156,61. Fiz questão de trazer os valores, para nortear a pessoa ter uma noção do quanto mais ou menos gastará num final de semana no interior de São Paulo. Uma curiosidade, antes de viajar, ainda no Terminal Barra Funda, comprei uma garrafinha de água 500ml por R$ 8,00. No retorno, dentro do Terminal Rodoviário de Avaré, comprei a mesma garrafinha de água (não lembro se era da mesma marca), aí a minha cara de surpresa: R$ 3,00. Custa caro morar na cidade de São Paulo!
Antes de finalizar, quero agradecer ao Clayton Macario, um dos organizadores do evento, que me ajudou com informações sobre ônibus e também a respeito da prova, isso desde novembro de 2024, quando enviei mensagens via whatsapp com dúvidas. Sempre solícito e disposto a ajudar!
Encerro por aqui. Agradeço aos que me acompanharam nas linhas acima. Até a próxima!
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Informações importantes:
Site da prova/inscrição: Runner Brasil
Resultados da prova: Todos os Resultados
Fotos: Walter Contessotti Jr. (Instagram / Facebook) e o site Foco Radical.
Restaurante Alecrim: @alecrimavare (Instagram).