Desde o meu último texto, escrito e levado ao ar há poucos dias, fiz movimentos pouco onerosos para a minha mente. Isso não significa que não descobri coisas interessantes das quais faço questão de dividir neste espaço. Em comum nesse curto período foram as agradáveis degustações de cerveja, cada dia um rótulo diferente, não por capricho, mas consequência de um catálogo de ofertas no supermercado que considerei irrecusável. Quando se está desfrutando de alguns dias de férias, em tempos de exigências para o fiel cumprimento de protocolos sanitários e com algumas modalidades de vírus invisíveis soltos por aí, é uma tarefa difícil programar viagens ou mesmo passeios nessa tempestade de incertezas.
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Keith Emerson, Greg Lake e Carl Palmer |
Certa vez, lá pelos idos de 2020, fui convidado pelo baterista Marcelo Jorge a conhecer o trabalho do trio britânico “Emerson, Lake & Palmer”, que traz em seu catálogo clássico uma mistura de rock progressivo com rock experimental, mas produzido com um requinte sinfônico, sei lá, não consigo classificar em apenas um gênero, o que mais gosto é o perfeito trabalho dos teclados (Keith Emerson - 1944-2016), produzindo um som limpo, sem outro instrumento competindo pelo mesmo espaço dentro da música. Estou em processo de descoberta dessa banda, tentando criar empatia, me transportando para aquele tempo e assim poder usufruir da melhor sensação possível a obra deles.
Falando em descompromisso, mas sem qualquer sinal de desídia, só o fato de poder fazer as coisas sem uma sequência necessária por esses dias de descanso, me permitiu conhecer outras maneiras de explorar novos universos. E saindo de um filme de guerra, absorvido diante de questões históricas, entrelaçadas entre realidade e ficção, me volto para um álbum da banda ELP chamado “Love Beach”, lançado em 1978. O meu destaque fica por conta das faixas “For You”, uma melodia pra lá de linda e a épica “Memoirs of an Officer and a Gentleman”, com mais de vinte minutos de duração. Descobri que esse álbum foi concebido sob forte imposição da gravadora e que os músicos careciam de criatividade naquele momento, devido ao cansaço físico e mental (afirmado por Emerson Lake numa entrevista anos mais tarde, em 1986). Mesmo tendo ficado um álbum distante se comparado às obras-primas lançadas na primeira parte dos anos 70, as faixas de "Love Beach" não deformam a boa reputação conquistada pela banda.
Falando um pouco sobre as cervejas, quem me conhece sabe com propriedade o meu amor pelas produzidas à base de trigo, são disparadas as favoritas do meu paladar. Mas também aprecio as amargas, passando tranquilamente pela zona de segurança da holandesa Heineken e aos poucos emprestando confiança à recente chegada da alemã Beck’s. Sobre as de trigo, tenho que exaltar com satisfação a Patagonia Weisse, produzida pelos nossos hermanos argentinos, a inspiradíssima belga Hoegaarden, que é produzida aqui no Brasil, além da encorpada Blue Moon, também da Bélgica, mas que só compro quando a promoção é muito boa, já que não tem um preço tão convidativo assim. E tomar uma cerveja dessas enquanto escuta um bom rock n’ roll é uma verdadeira cartase.
Não vou encerrar a conversa sem trazer outra banda de peso, também dos anos 70, com qualidade que me faz refletir em como tudo aquilo era possível diante da ausência dos recursos tecnológicos que temos atualmente. Os canadenses do Bachman Turner Overdrive são o verdadeiro retrato da receita do rock n’ roll conservada dentro de uma garrafa, lançada ao mar e descoberta algumas gerações posteriores. Surgiram em 1973 logo com dois álbuns, ambos levam o nome da banda, com o BTO I lançado em maio e o BTO II chegando no final de dezembro daquele ano. Dentre as músicas que mais gosto cito “Hold Back The Water” e “Blue Collar”, do primeiro álbum, e “Stonegates” e “Takin’ Care Of Business”, essa última um dos maiores sucessos da banda.
Entre um intervalo e outro, principalmente quando acabo de escutar um álbum ou uma boa miscelânea de grandes nomes do rock, faço minhas reflexões e fico rememorando muitas coisas, como a época quando entrei em contato com a música. Foi nos anos 2000, quando tinha 15 anos, para muitos uma idade tardia, mas comigo foi dessa forma, o rock entrou pelos meus ouvidos, sacudiu meu cérebro e conquistou o meu coração. E hoje estou retratando esse ótimo relacionamento de mais de 20 anos, já que o velho rock n’ roll me trouxe não apenas música, no mesmo pacote vieram novas amizades, descobertas e oportunidades. Sou grato.