sábado, 29 de abril de 2023

Monsters of Rock – PARTE 1


Este blog é uma página pessoal sem fins lucrativos, é o espaço que eu utilizo para escrever pensamentos, inspirar reflexões e compartilhar informações relacionadas ao universo da música. Portanto, não tenho como prever o tamanho de um texto, menos ainda a intenção de inibir a minha disposição criativa de materializar algum assunto e a partir disso divulgar para as pessoas interessadas. Esclarecido esse ponto inicial, vamos ao que interessa: abordar, sob a ótica de um ser humano indistinguível na multidão, o que foi a edição brasileira do Monsters of Rock, ocorrida no dia 22 de abril de 2023. Com a lista de bandas definidas desde dezembro do último ano, o que prometia ser épico se cumpriu de forma esplendorosa, com shows maravilhosos e repleto de bastante entrega por parte dos músicos.



Os portões do Allianz Parque foram abertos pontualmente às 10h00, com o primeiro show previsto para iniciar às 11h30. Cheguei ao Estádio do Palmeiras (e da empresa WTorre por mais alguns anos) por volta das 11h00. Usei o transporte por aplicativo para chegar ao local e em menos de 30 minutos já estava nas redondezas do estádio. Portão “B” para aqueles que estavam munidos do ingresso para acesso à Pista Premium, encontrei algumas camadas de acesso para, de fato entrar no local. Para entrar no corredor fechado por gradis, mostrei o ingresso, depois segui para a checagem dos meus pertences e revista pessoal e por fim, a validação do meu ingresso junto à catraca e colocação da pulseira correspondente ao setor e também uma outra pulseira, aquela que permitia eu consumir bebida alcoólica (para maiores de 18 anos).



A primeira coisa que eu fiz foi lançar mão de um ativo gratuito de uma campanha patrocinada que concedia um copo de cerveja grátis. O aplicativo “Pede Pronto”, em parceria com a organização do evento, orientou a todos que fossem ao festival a ativar, via aplicativo, o direito a receber um copo grátis da cerveja Heineken. Foi a segunda vez que participei dessa campanha e comigo funcionou direitinho, mas sempre escuto relatos de pessoas que não conseguiram. Por via das dúvidas resolvi essa questão logo de cara, para evitar possíveis aborrecimentos. Em seguida, fui atrás do copo especial e oficial do festival, outro ativo que se tornou febre entre aqueles que gostam de levar uma lembrança do show para casa. Comprei os dois modelos disponíveis ao custo de R$ 25,00 cada. O relógio marcava 11h27 quando escutei o som combinado de instrumentos vindos do palco. Era o primeiro show se iniciando antes mesmo do horário previsto! Estava eu na Inglaterra?! Não! Mas que me senti importante e respeitado por aquela ação legal que deveria ser via de regra e não exceção, isso sim!

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DORO (Alemanha)



Eu não falei no line-up (fila de algo) propositalmente para que você que está lendo este texto não perca de vista a importância da logística da coisa toda. Pois bem, a cantora alemã Doro Pesch recebeu a missão de abrir oficialmente o festival Monsters of Rock 2023. Não estou familiarizado com as músicas dela, mas show ao vivo tem uma atmosfera que encanta sem fazer muito esforço e o fato de não conhecer o trabalho dela não interferiu em nada o meu entretenimento. Com uma banda de apoio bem calçada, guitarras carregadas de bom peso enraizados da década de 1980, a cantora de 58 anos soltou um vozeirão de deixar muito marmanjo metido a cantor “brabão” com as pregas vocais arrepiadas. Vou recorrer a uma pesquisa direcionada para obter o setlist do show que durou pouco mais de 40 minutos. Até aquele momento, a Pista Premium estava vazia, era possível se aproximar da grade de separa o acesso ao palco de maneira muito fácil. A Doro arriscou algumas palavras em português, fez um show muito de heavy metal competente e deixou o público em polvorosa quando, no final da apresentação, ergueu em punho uma bandeira do Brasil. É a receita para cativar um público não muito difícil de conquistar!



A base das músicas escolhidas foi da primeira banda que ela fez parte, Warlock, formada nos anos 80 e que teve as atividades encerradas no final dessa mesma década. O ponto alto do show foi a música “All We Are” essa cantada em boa parte com a ressonância do público presente. Para não ficar boiando por completo no show dela, na véspera, eu escutei na íntegra o álbum Rare Diamonds, de 1991, compilado de músicas do Warlock e da carreira solo da Doro, iniciada após a dissolução da banda. Foi isso que me deixou minimamente inteirado com o som dela. E gostei do que presenciei!

Setlist:

1. I Rule the Ruins (Warlock cover).

2. Earthshaker Rock (Warlock cover).

3. Burning the Witches (Warlock cover).

4. Flight for Rock (Warlock cover).

5. Raise Your Fist in the Air.

6. Metal Racer (Warlock cover).

7. Hellbound (Warlock cover).

8. Revenge.

9. All We Are (Warlock cover).

10. All for Metal.

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Symphony X (Estados Unidos)



A segunda atração do dia ficou a cargo do Symphony X, os mais “novinhos” do festival, tendo a banda sido formada em 1994 nos Estados Unidos. Metal progressivo de difícil assimilação, ainda mais no meu caso, que por desleixo, só tinha escutado algumas músicas dos caras horas antes do show. De qualquer forma, o peso do som ao vivo acaba entretendo pelos mais diversos motivos. Não sou o maior entendedor a respeito da parte técnica de show, mas não precisei de muito tempo para identificar um descompasso no som reverberado no estádio, muito alto e estridente, pelo menos para quem estava na Pista Premium. Cheguei a comentar com amigos que eu ficaria muito melhor estando à distância do Shopping West Plaza (localizado a algumas centenas de metros do local) para acomodar melhor os meus ouvidos para o show (claro que foi uma forma de exemplificar a evidente dissonância sonora produzida ali). À aquela altura, eu já estava na terceira dose em copo de 350ml da cerveja Heineken, quebrando um hiato de quase 40 dias sem ingerir bebida alcoólica.



A banda em si apresenta qualidade indiscutível, som em camadas e de difícil execução ao vivo, isso por si só já satisfaria um ser exigente. Entretanto, tamanha a complexidade do produto, cheio de detalhes e acabamentos que beiram a incompreensão, deixa boa parte do público disperso e promove, infelizmente, o caminho mais fácil: a preguiça em ouvir. Por mais que eu aceite bandas assim como desafios para aprender a atmosfera que habitam, tive dificuldades em me concentrar nesse show. Quem sabe em uma ocasião futura, caso eles retornem ao Brasil, eu esteja mais receptivo para o que eles tem a oferecer. Esse show começou pontualmente às 12h30 e terminou cerca de 45 minutos depois, entregando o palco conforme estipulado para a rápida montagem do equipamento da banda seguinte.

Setlist:

1. Nevermore.

2. Serpent’s Kiss.

3. Sea of Lies.

4. Without You.

5. Kiss of Fire.

6. Run With the Devil.

7. Set the World on Fire (The Lie of Lies).

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Candlemass (Suécia)



Eu já tinha ouvido falar em “doom metal”, mas erroneamente havia associado esse subgênero do heavy metal com algo pouco palatável, somado aos terríveis vocais de propulsão gutural (que eu detesto). Para minha surpresa, é um som carregado por instrumentos que emulam por espaço dentro da música, com predominância em solos de guitarra arrastados e de uma densidade bastante sombria. Influências desse resultado podem ser encontradas em fontes bastante conhecidas, como os primeiros álbuns do Black Sabbath. E a banda sueca Candlemass responde bem a essa definição, com músicas bem trabalhadas, com “viagens” agradáveis dentro de cada solo de guitarra, alicerçadas por um trabalho de base competente e um contrabaixo que atua como se estivesse em uma “praça de máquinas” de um grande navio cargueiro.



Vale destacar que o Candlemass entrou de última hora no line-up do evento, após o cancelamento da banda Saxon. Tanto que eles não tinham uma turnê planejada para este momento na América do Sul e o show na cidade de São Paulo foi a única apresentação no Brasil. Acessei as redes sociais da banda e fiquei bastante interessado na camiseta que eles colocaram à venda exclusivamente para o show, com o título “Monsters of Doom”, trocadilho com o nome do festival. Felizmente eu consegui comprar, mas o preço foi bem triste: R$ 150,00. O show durou cerca de 55 minutos, e terminou dentro do previsto, por volta, das 14h30. Não que seja algo desanimador, mas é desconexo uma banda não ter uma sintonia pretérita com boa parte do público, tendo pouco tempo ao longo do show para conquistar, mais pela competência do que qualquer outro tipo de ligação, a atenção ou mesmo admiração das pessoas. Mas eles conseguiram, fizeram um trabalho focado na perfeita execução instrumental e o resultado foi a efusiva salva de palmas a cada término de faixa. Uma curiosidade, enquanto escrevo este relato, coloquei para tocar as faixas de estúdio que foram executadas no show de ontem, e posso dizer que é um som bastante envolvente e, pasmem está difícil parar de escutar!

Setlist:

1. Mirror Mirror.

2. Bewitched.

3. Under the Oak.

4. Dark Are the Veils of Death.

5. Crystal Ball.

6. The Well of Souls.

7. A Sorcerer’s Pledge.

8. Solitude.

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Para não ficar uma postagem enorme, achei por bem dividir em duas partes, assim eu consigo jogar luz com brilho destacado nas primeiras bandas que se apresentaram no Monsters of Rock sem confrontar atenção com o que considero a melhor parte do cardápio, que são os clássicos do hard rock mundial (sem esquecer do heavy metal do Helloween que será a próxima banda dissecada pela minha humilde opinião). Um ponto nevrálgico nos grandes eventos é a questão do uso de sanitários e também da alimentação, não tive problema com nenhum deles, mas vi que as filas dos banheiros femininos eram mais longas e demoradas do que o fluxo dos sanitários masculinos, em que as filas eram rapidamente dissipadas. Quanto a alimentação, não tive nenhum contratempo para comprar cerveja, havia muitos vendedores ambulantes credenciados no local e os pontos de retirada de cerveja estavam bem agilizados.



Para finalizar e não menos importante daquilo que tentei expressar neste texto, recomendo que vocês escutem essas bandas, pesquisem a respeito delas, criem laços mínimos, só assim será possível sorver o que elas tem a oferecer. Um novo olhar sobre o campo criativo instrumental, onde músicos extremamente dedicados tentam, pelo prazer de realizar trabalhos que deixam lastros e acima de tudo, promover cultura para o nosso universo.