segunda-feira, 14 de novembro de 2022

Percepções, demoras e outras circunstâncias

Gosto de voltar ao passado, independente de ser o passado que eu respirei ou se é aquele que eu não conheci a partir da minha atual consciência. Igualmente divertido é voltar a um tempo bem anterior a isso, quando a música, vestida de um tal “rock”, ensaiava os primeiros passos rumo a algo tão grandioso que seria o embrião a me proporcionar felicidade. Estamos acostumados a ver o produto pronto, com a tela do Youtube “bombando” nas primeiras horas de lançamento de uma música ou álbum completo, com visualizações humanas e robóticas promovendo a novidade. Mas nem sempre chegar ao fim dessa etapa foi fácil, muitas bandas tiveram que percorrer longos caminhos (na maior parte dos casos estradas bem esburacadas) para conseguir o resultado final. 

Não existe definição em palavras para o que eu sinto, existe uma aproximação, seja pela ênfase empregada por termos de baixo calão (muita gente acredita que isso chama mais a atenção) ou mesmo por uma linha de explicação o mais coerente possível para algo que somente os sentidos podem sentir - meio óbvio). As linhas vão sendo escritas e o som que toca é de Johnny Winter, aquele ao vivo de 1970, onde ele faz o seu e dos outros (cover = imitação com todo cuidado e respeito que a obra original merece) de maneira que hipnotiza, nem sei quantas vezes já escutei as poucas seis faixas daquele show. A voz do meu coração é a consciência em parceria com as mãos, que traduzem em caracteres a melhor expressão que posso alcançar.

Não parei em Johnny Winter, nem sei como, saltei para Joe Bonamassa e fiquei envolvido intimamente com a música “When One Door Opens”. Não cabe a mim investir no exercício de definir essa música, mas posso indicar essa obra para que você escute. Não imponho regras no meu texto, só gostaria que você chegasse até o final deste capítulo, para que consiga me acompanhar nessa viagem de palavras soltas e somadas. Johnny Winter deixou sua obra para nós, eu mesmo o conheci através delas; quando ele partiu em 2014, eu nem sabia o meu verdadeiro propósito para gosto musical (era um gafanhoto iletrado em um universo de ruídos). Joe Bonamassa tem 45 anos neste instante em que escrevo, e isso me deixa contente, a chance de seguir acompanhando seus passos profissionais me alimenta de boas expectativas, afinal, é a primeira vez que conheço platonicamente uma lenda viva jovem.

Johnny Winter (foto: internet)

Johnny Winter com seu “Live at the Filmore East, New York, 1970”, me deixou atônito durante essa viagem de cinquenta anos atrás e quando eu sou devolvido à realidade de 2022 me deparo com o “Royal Tea”, obra de 2020 do Joe Bonamassa, que me deixou perdido entre passado clássico em preto e branco e passado recente em cores. Obras se conversam, cheguei a essa conclusão. O respeito por quem se inspira e o elixir emprestado de onde se originou a obra. Sempre achei que escovar os dentes e sorrir ao mesmo tempo fosse tarefa impossível de fazer simultaneamente, mas aí quando vejo Joe Bonamassa em solos primorosos extraídos de sua belíssima guitarra com a atenção reta para a linha vocal, me vejo num impasse difícil de ser diagnosticado (limitação assustadora da minha parte – admito – risos).

Como é delicioso presenciar o blues e o rock expressando harmonia para quem busca um som que entra no íntimo e revigora o espírito. O meu texto é uma forma simplista para expressar gratidão a tudo que essas pessoas fizeram comigo. É a lavoura atuando com seus frutos bem cuidados, todos duradouros para várias gerações. Antes eu não creditava o merecido espaço a música instrumental, um erro desagradável de admitir, tudo graças a minha ignorância em demorar a compreender a existência do universo fora da caverna. E hoje o caminho é esse para mim, sem volta. Para alguns serei taxado como chato e pedante, para outros, uma pessoa exigente e inconformada que não espera senão o melhor de algo em todos os níveis.

Joe Bonamassa (foto: internet)

Minha sugestão é essa: escutem Johnny Winter e Joe Bonamassa. Não estou preocupado por onde você começará, meu pedido é para que esse passo seja dado, independente da obra escolhida. Não tente perguntar a quem você acredita que conhece sobre música se deve ou não escutar um desses gênios de tempos diferentes, cada sugestão que você receberá não é um norte para nada, o que realmente vale são as vibrações do seu coração. Faça esse exercício depois de ter escutado o vasto material que eles trouxeram ao mundo. O certo é que não há errado entre os dois, qualquer escolha feita será um caminho sem espaço para retorno (duvido que haja alguém divirja desse destino). Música é isso, vibrações que deixa você diferente para sempre.

Eu só agradeço por estar em 2022 com saúde e com possibilidade tecnológica de acesso às obras que ficarão marcadas para toda eternidade cultural. E tudo isso vai em direção a minha rasa teoria: são verdadeiros alienígenas que estão entre nós. Não precisa concordar comigo, a ideia que eu tenho é que você pense, isso por si só já é um sinal de movimento bem interessante para a tão esperada evolução e pertencimento em atmosferas melhores.