Gosto de voltar ao passado, independente de ser o passado que eu respirei ou se é aquele que eu não conheci a partir da minha atual consciência. Igualmente divertido é voltar a um tempo bem anterior a isso, quando a música, vestida de um tal “rock”, ensaiava os primeiros passos rumo a algo tão grandioso que seria o embrião a me proporcionar felicidade. Estamos acostumados a ver o produto pronto, com a tela do Youtube “bombando” nas primeiras horas de lançamento de uma música ou álbum completo, com visualizações humanas e robóticas promovendo a novidade. Mas nem sempre chegar ao fim dessa etapa foi fácil, muitas bandas tiveram que percorrer longos caminhos (na maior parte dos casos estradas bem esburacadas) para conseguir o resultado final.
Não existe definição em palavras para o que eu sinto, existe uma aproximação, seja pela ênfase empregada por termos de baixo calão (muita gente acredita que isso chama mais a atenção) ou mesmo por uma linha de explicação o mais coerente possível para algo que somente os sentidos podem sentir - meio óbvio). As linhas vão sendo escritas e o som que toca é de Johnny Winter, aquele ao vivo de 1970, onde ele faz o seu e dos outros (cover = imitação com todo cuidado e respeito que a obra original merece) de maneira que hipnotiza, nem sei quantas vezes já escutei as poucas seis faixas daquele show. A voz do meu coração é a consciência em parceria com as mãos, que traduzem em caracteres a melhor expressão que posso alcançar.
Não parei em Johnny Winter, nem sei como, saltei para Joe Bonamassa e fiquei envolvido intimamente com a música “When One Door Opens”. Não cabe a mim investir no exercício de definir essa música, mas posso indicar essa obra para que você escute. Não imponho regras no meu texto, só gostaria que você chegasse até o final deste capítulo, para que consiga me acompanhar nessa viagem de palavras soltas e somadas. Johnny Winter deixou sua obra para nós, eu mesmo o conheci através delas; quando ele partiu em 2014, eu nem sabia o meu verdadeiro propósito para gosto musical (era um gafanhoto iletrado em um universo de ruídos). Joe Bonamassa tem 45 anos neste instante em que escrevo, e isso me deixa contente, a chance de seguir acompanhando seus passos profissionais me alimenta de boas expectativas, afinal, é a primeira vez que conheço platonicamente uma lenda viva jovem.
Johnny Winter com seu “Live at the Filmore East, New York, 1970”, me deixou atônito durante essa viagem de cinquenta anos atrás e quando eu sou devolvido à realidade de 2022 me deparo com o “Royal Tea”, obra de 2020 do Joe Bonamassa, que me deixou perdido entre passado clássico em preto e branco e passado recente em cores. Obras se conversam, cheguei a essa conclusão. O respeito por quem se inspira e o elixir emprestado de onde se originou a obra. Sempre achei que escovar os dentes e sorrir ao mesmo tempo fosse tarefa impossível de fazer simultaneamente, mas aí quando vejo Joe Bonamassa em solos primorosos extraídos de sua belíssima guitarra com a atenção reta para a linha vocal, me vejo num impasse difícil de ser diagnosticado (limitação assustadora da minha parte – admito – risos).
Como é delicioso presenciar o blues e o rock expressando harmonia para quem busca um som que entra no íntimo e revigora o espírito. O meu texto é uma forma simplista para expressar gratidão a tudo que essas pessoas fizeram comigo. É a lavoura atuando com seus frutos bem cuidados, todos duradouros para várias gerações. Antes eu não creditava o merecido espaço a música instrumental, um erro desagradável de admitir, tudo graças a minha ignorância em demorar a compreender a existência do universo fora da caverna. E hoje o caminho é esse para mim, sem volta. Para alguns serei taxado como chato e pedante, para outros, uma pessoa exigente e inconformada que não espera senão o melhor de algo em todos os níveis.
Minha sugestão é essa: escutem Johnny Winter e Joe Bonamassa. Não estou preocupado por onde você começará, o meu pedido é para que esse passo seja dado, independente da obra escolhida. Não tente perguntar a quem você acredita que conhece sobre música se deve ou não escutar um desses gênios de tempos diferentes, cada sugestão que você receberá não é um norte para nada, o que realmente vale são as vibrações do seu coração. Faça esse exercício depois de ter escutado o vasto material que eles trouxeram ao mundo. O certo é que não há errado entre os dois, qualquer escolha feita será um caminho sem espaço para retorno (duvido que haja alguém divirja desse destino). Música é isso, vibrações que deixa você diferente para sempre.
Eu só agradeço por estar em 2022 com saúde e com possibilidade tecnológica de acesso às obras que ficarão marcadas para toda eternidade cultural. E tudo isso vai em direção a minha rasa teoria: são verdadeiros alienígenas que estão entre nós. Não precisa concordar comigo, a ideia que eu tenho é que você pense, isso por si só já é um sinal de movimento bem interessante para a tão esperada evolução e pertencimento em atmosferas melhores.