O rock é incrível, não é mesmo?! Pois bem, no último dia 28 de agosto de 2022, presenciei com o olhar atento através das lentes dos meus óculos um show memorável. A banda de rock australiana Airbourne fez uma apresentação única no Brasil, mais precisamente no Fabric Club, localizado na cidade de São Paulo. Para temperar um pouco mais o meu testemunho, contarei como conheci a banda e consequentemente fui parar no show deles. Antes de mais nada, como sugestão, acesse o canal do Airbourne no YouTube e ative a playlist das músicas deles, tenho certeza que você passará mais tempo escutando do que a inocente curiosidade por algo novo permite.
Não faz muito tempo e não lembro ao certo quando ouvi falar do Airbourne pela primeira vez. Sei que foi em 2022, talvez no programa RHM Animal Records ou através de alguma lista aleatória no YouTube Music Premium. Bom, de qualquer maneira o fato do Manifesto Bar anunciar essa banda como parte (ou grande parte) da comemoração de 28 anos do bar certamente ativou um gatilho no meu cérebro que me fez escutar mais vezes o som dos caras. Uma discografia relativamente pequena até aqui, com 5 álbuns de estúdio, o primeiro deles em 2007, com o título “Runnin’ Wild”, com 11 faixas de fio a pavio de um rock sujo e reto, quase uma extensão de uma linha do AC/DC igualmente bem executada.
Certo dia, num passado bem recente (ao longo do mês de agosto de 2022), conversando virtualmente com o meu nobre amigo Fernando Kucinski, vocalista da banda cover White & Purple Tribute (dedicada às bandas Whitesnake e Deep Purple), ele me revelou que iria ao show da banda Airbourne. Fiquei interessado no assunto e fui pesquisar, descobri que havia ingressos disponíveis e motivado (ou impulsionado) pela ingestão de algumas latinhas da ótima cerveja Baden Baden IPA Puro Malte Maracujá, comprei o ingresso pela bagatela de R$ 287,50 e mais 1Kg de alimento. O processo foi através do site Bilheto, e seguido de poucos cliques, lá estava eu imprimindo o comprovante e garantindo presença em um show internacional.
Outra ótima notícia foi saber que haveria banda de abertura e não “qualquer banda de abertura”, foram confirmados os brazucas da RF Force, projeto de heavy metal clássico idealizado pelo guitarrista Rodrigo Flausino, que já possui um ótimo disco de estreia autointitulado. Se você ainda não conferiu o trabalho deles, recomendo que busque o quanto antes. É prazeroso saber que no Brasil o rock e suas vertentes continuam presentes e com potencial de crescimento bastante promissor. A semana que antecedeu o show foi uma espécie de estudo sobre o Airbourne, não me agradava em nada a ideia de chegar ao show e não saber quase nada sobre a banda.
A minha intuição não estava enganada, a entrada foi tranquila, sem fila, deixei a doação do alimento na porta com um dos seguranças que estava realizando a revista pessoal, depois disso o meu ingresso foi valiado e assim entrei no Fabric Club, um galpão relativamente grande, conservado (limpo) e com uma variação limitada de bebidas (ponto que pode ser melhorado nas próximas ocasiões). Senti falta de uma loja oficial da banda Airbourne, fui com a intenção de comprar pelo menos uma camiseta e um álbum deles. Por outro lado, a RF Force marcou presença com a venda de produtos da banda. Eu já tenho o CD deles e recentemente fui presenteado com uma camiseta da banda pelo Rodrigo Flausino.
O show de abertura da RF Force começou por volta das 18h00 e foi incrível, as músicas autorais do álbum de estreia da banda soaram mais pesadas e cativantes ao vivo. Eles já começaram explodindo tudo com “Fallen Angel”, música que ficou na minha cabeça até depois do show (não me pergunte o motivo, só sei que o refrão ficou em mim por um bom tempo). O som do local estava altíssimo, não sei se isso é bom ou ruim, ainda bem que eu estava com um fone auricular, foi a minha válvula de escape para aquele tsunami sonoro que estava sacudindo o meu corpo. Não entenda como uma crítica, rock para mim tem que ser em alta voltagem mesmo, o fone ajudou para a minha cabeça não explodir antes do Airbourne subir ao palco (risos).
Ainda sobre a RF Force, fizeram um medley muito oportuno com trechos de faixas das bandas Accept, DIO, Iron Maiden e Judas Priest. Uma banda com músicos de extrema competência: Marcelo Saracino (voz), Rodrigo Flausino (guitarra), Ricardo Flausino (baixo), Daniel Iasbeck (guitarra) e Lucas Emidio (bateria). A banda possui uma linha de som direcionadas para o heavy metal clássico, mas com elementos seculares, que soa muito bem na potência que um show ao vivo exige. O público gostou do que viu, muita gente extasiada e com o sangue fervendo para uma noite que estava apenas começando.
Não muito tempo depois, tudo estava pronto para receber o que facilmente classifico como AC/DC “moderno” e antes que o relógio combinasse os ponteiros para o anúncio das 20h00 o palco veio a baixo com um terremoto sonoro vindo das caixas de som Marshall ali postadas. A música de abertura foi um bombardeio sem precedentes (Ready to Rock), um cartão de visitas que nem precisava ser mostrado, praticamente um “pé na porta” para chegar arregaçando com tudo. O público foi ao delírio, já devidamente aquecidos pelo show que a RF Force ofereceu antes.
Não deu tempo para respirar, olhar para o lado ou qualquer outra ação que não fosse ficar com o “saco de ossos” voltados para o palco. O vocalista Joel O’Keeffe usava uma calça com aqueles “rasgos” típicos de roqueiro desencanado, sem camisa e levando consigo uma guitarra que na hora me veio a cabeça a imagem da lenda viva Angus Young (AC/DC). A performance vocal me trouxe outra lembrança, dessa vez do onipresente Bon Scott (que pertenceu a fase de ouro do AC/DC) e que deixou este mundo precocemente em 1980. O som estava em alta voltagem (tomando emprestado o nome do álbum do AC/DC “High Voltage”, de 1976). Mas todas as comparações que estou fazendo são positivas, rememorar uma banda que já está no Olimpo é motivo de satisfação, e o Airbourne possui um som próprio que por vezes resgata influências do passado.
Tentei (e consegui) gravar alguns vídeos para recordação e também dividir com os roqueiros e não roqueiros de meu convívio próximo e distantes (das redes sociais). Em breve estarão todos no meu canal no YouTube (basta pesquisar por “Roqueiro Sem Fronteiras”). Cada música executada carregava um solo de guitarra estendido e com os demais integrantes plenamente harmonizados e as erupções sonoras expelidas de seus instrumentos era reverberante naquele galpão. Além do icônico vocalista e guitarrista, a banda conta com Ryan O’Keeffe na bateria, Harri Harrison na guitarra base e voz de apoio e por fim, não menos importante, temos Justin Street no contrabaixo e acumulando com o vocal de apoio. Teve um certo momento que o Joel O’Keeffe saiu do palco e entrou na área do público, para agitar sobre o balcão do bar, o que levou o público a enlouquecer completamente.
Como tudo que é bom dura pouco, o show foi se encaminhando para o final, não antes da banda levar para o palco uma pequena mesa com rodinhas carregando dezenas de copos de plástico contendo cerveja e uísque e fazer a alegria da galera atirando para todos os lados para ver quem conseguia segurar o copo sem derrubar. Um pouco dessa cerveja me atingiu (risos), e para delírio de todos, uma distribuição de uísque Jack Daniel’s no gargalo foi oferecido pelo próprio frontman para quem estava rente ao palco. Algumas músicas foram emendadas umas nas outras, mostrando que show estava em um nível totalmente surreal, onde o 100% era pouco perto da energia que aquele palco e pista ofereciam. Até em shows em grandes arenas e estádios existe um momento de “recuperação”, onde uso para ir ao banheiro e me restabelecer. O que se viu no Fabric Club foi algo inédito para mim, eu não queria perder um só segundo daquilo.
A banda encerrou com a música “Runnin’ Wild”, que eu tive a oportunidade de gravar na íntegra, com o tradicional “bate-cabeça” sendo habilmente orquestrado pelo incrível Joel O’Keeffe. Um show que durou cerca de 1h30min, em que o Airbourne mostrou para mim e para os que estavam ali presentes que o rock é insuperável, imponderável e que traduz em cada instrumento um resultado indiscutível de prazer pela música. E outra coisa bem legal disso é que o meu amigo Fernando Kucinski presenciou tudo isso e não me deixa mentir!
Parabéns ao Manifesto Bar pelos 28 anos de existência e a banda Airbourne por me proporcionar um momento mágico que certamente não esquecerei.